quarta-feira, novembro 16, 2005

A esfera - Parte 8

A noite assentava sobre a lucidez e senso comum da cidade. Ela era a entidade viva que liga a existencia decrepita de todos em que tem o azar de deambular nela. Há os que tentam resistir, manter-se minimamente em contacto com a realidade... Mas esses sao os que acabam mortos ou pior. A unica maneira de sobreviver é perder-se na loucura e esperar que ninguém te encontre. A unica desvantagem é nunca mais poder regressar, mas ao fim de algum tempo já ninguém quer regressar. A loucura é demasiado reconfortante... E de certa forma é a unica sanidade que precisamos

- Ainda está connosco detective?- disse ela com a sua voz sensual e grave que me arrepiou a espinha. A minha vontade era de dar uma resposta algo mais aspera, algo que a fizesse sair da sala, do escritorio para nunca mais voltar... Mas a curiosidade venceu.
- Vai ter de me desculpar... O céu nocturno faz-me lembrar coisas do meu passado...
- Quer confessar algo?- palavras ditas com um ar trocista, tentado esconder um pavor que trespassava-a completamente
- Não, eu deixo as confissões para o meu cão... é o unico padre que posso confiar os meus segredos.
A sua face desenhou uma certa surpresa antes de definhar numa suave e quase inocente gargalhada.
- Vejo que não é um homem religioso...
- Impressão sua. Sou altamente religioso, apenas desentendi-me com Deus a uns anos... Mas vamos ao que interessa menina...
- Pode-me tratar por Lilith- por esta altura comecei a duvidar do que se passava. Por momentos "flashes" de um programa do Canal Historia arrombaram a minha mente. Memórias misturadas com uma qualquer trip de heroina... Bons velhos tempos
- Então menina Lilith diga-me... Que se passa com o seu pai? Porque é que eu devia dar um... centimo por ele?
- O meu pai é um homem muito importante e recentemente envolveu-se com uma mulher bastante jovem. A principio tudo parecia bem mas passado algum tempo ele começou a evidenciar um comportamento estranho que só parou quando a tal rapariga apareceu morta...
- Estou a ver... mas mesmo assim não estou a ver em que a posso ajudar.
- Ela foi vitima dum assassinio brutal, com muitos paralelismos entra o caso que ta a investigar.
Levada por uma especie de epifania, ela tirou da sua mala uma pequena pasta com os recortes de jornal sobre o caso... Não sei como não dei por isto... Embora as noticias não contassem todos os dados o pouco que continha mostrava que havia muito em comum entre os dois casos...
- Muito bem menina Lilith. Conseguiu a minha atenção... conte mais sobre essa "amiga" do seu pai...


Lá fora a chuva começava a acariciava languidamente os predios, numa dança sensual de sons e cheiros... Mas ninguém nota. Especialmente aqui... nunca aqui.

1 Comments:

Blogger Naked Lunch said...

Passei, como prometido, e vou voltar... Abraço.

9:19 da manhã  

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