quarta-feira, março 29, 2006

Portugal 2070 - 7

As superfícies pareciam-me cada vez mais metálicas e frias, à medida que íamos descendo as escadas para a cripta. Sentia a humidade no ar, as narinas dilatavam-se e o sangue fluia melhor para a cabeça, num cheiro a musgo denso.
- Tão depressa...
Ele acabou por concordar e reduziu as passadas, inclinava-me sobre o seu ombro esquerdo que me guiava pela escada em caracol, espiralada, negra. Último degrau; a horizontalidade. Vi claridade a dançar ao fundo num jogo inocente nas paredes do espaço, mas não era bem ver. Sentia isso.
- Quem?
- Como estava a cidade desde que você partiu? - Inquiriu o homem ignorando a minha pergunta.
- Como sempre a conheci: ferida, miserável... Oh Deus! Afinal o que se passa aqui? Exigo uma resposta!
- Runesocescius.
E o espaço voltou á escuridão. Ouvia o homem a afastar-se de mim em passadas sub-repticias, deslizando lateralmente. E parei para cheirar o ar que se entrelaçava em mim. Começei a ouvir vozes a despoletaram em uníssono do outro lado.
- Volta!- Gritei. Aproximei-me da parede, e tacteando fui dar a uma porta aberta.
- Aproxima-te, aqui. A mãe, o pai de todos aguarda-te no seu trono vermelho negro, não há guerra, não há morte, não há paz nativa no mundo que criámos, a ordem que estabelecemos é contrária, é usurpadora dos males divinos e as profecias não são erradas, estão certas, quem viu...
- Por favor...
- ...aquele que restaurará a balança dos mortais.
Aproximei-me, ele apercebendo-se da minha dificuldade nos meus movimentos, trouxe-me pelo braço. Sentou-se primeiro, e enquanto o imitei, segurou-me firmemente pela mão e balançou-a com a maior força contra algo.
- Tens de ver!
Foi uma fracção de segundo até perceber o que era "algo". Tinha um espeto cravado contra a minha mão, sentia a dor dilacerante a percorrer-me e cobrir a razão com o manto da loucura. Quis tirar a mão do ferro que a perfurava, mas a do próprio homem que cobria a minha por completo e por consequência estava sujeito á mesma dor que eu não a deixou. Remetia-a para baixo, estava entalado entre a madeira da mesa e a mão do homem.
- Vê!
E eles vieram agarrar-me enquanto eu me debatia no frenesi, no pânico pela sobrevivência, nos meus impulsos mais profundos. Depois, veio a claridade.

2 Comments:

Blogger CS said...

Mmmmm... a claridade! Essa é a parte melhor! Vou à procura da minha também!

LTBML-PF
(Aha! aposto que não sabes o que é! Bem feita! É para te castigar pelas vezes em que eu não sei do que falas... Hoje tou assim, cruel, maligna, viciosa... Niente da fare!)

9:19 da tarde  
Blogger Vince Vice said...

Cara MP, kando não posso cá vir é porque não posso. Estas cruel, maligna, viciosa... Optimo! É assim que eu gosto das minhas mulheres! Bjs, amo-te

10:13 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home

Creative Commons License
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 2.0 Brazil License.