terça-feira, outubro 20, 2009

Fogo Da Alma: Parte V

A quinta parte da nossa "emocionante" historia coube ao nosso ilustre convidado, o grande Alpha. Enjoy!

E assim foram… Em direcção ao destino prometido. Prometido de vingança. Prometido de guerra. Prometido de Gloria. Prometendo aqueles que tomam a decisão de iniciar a sua viagem, a redenção final.
Anibal, sabia de antemão que a viagem não iria ser fácil. Seria mesmo uma tormenta. De qualquer das formas, não há nada que possa pagar o que o destino nos pode oferecer.
Iraja, cego pela sua vingança, desde cedo tinha tomado a sua decisão. A ilha era algo que o atormentava. Sabia que lá a sua alma iria descansar. De um modo ou de outro.
Os dias seguintes foram desenhados para programar a viagem, para preparar os seus corpos e almas para a tempestade que viria a seguir…
Com o sol espelhado no mar calmo, uma brisa a passar levemente pela sua face e o som do mar a embater tranquilamente contra o paredão, Anibal contemplava o sossego que aquela imagem lhe proporcionava. Pensava para si quando voltaria a ter esta sensação. Se é que voltaria a sentir-se deste modo. Emaranhado nestes pensamentos..

“Estamos prontos…” – Revelou Iraja, afastando Anibal do seu pensamento
“Mas há algo que lhe queria pedir antes de partir…” - Disse Iraja com algum receio de ser mal interpretado, afinal de contas conheciam-se á tão pouco tempo.
“Encontrei este jovem, que me tem vindo a pedir insistentemente para se juntar a nós nesta viagem. Julgo que não haverá problema”
“Não há? Mas esse rapazito tem a noção para onde vai? ” - Respondeu Anibal
“Ele diz que sabe ao que vai… e diz ter informações preciosas acerca do nosso destino”
“Como pode um rapazito desses ter informação sobre o sitio para onde vamos? De qualquer das formas, não há tempo a perder. Se o quiseres levar, fica á tua conta.”
O rapaz tinha um aspecto estranho. Pouco comum para época, mas não parecia ser uma ameaça devido ao seu aspecto franzino. Contudo, Anibal manteve-se desconfiado.

segunda-feira, outubro 05, 2009

Fogo Da Alma: Parte IV

A alvorada encontrou Anibal na areia negra com o ultimo cigarro a arder-lhe na boca. A noite tinha partido com a sua corte circense para os salões do passado deixando o pirata no frio corredor do presente. Preso à sua logica, tentava fazer sentido aos acontecimentos mas tal tarefa parecia titanica. O surrealismo da linha temporal gritava no cosmos ensurdecendo os seus pensamentos. À sua frente jazia a sua fiel “saif”, a espada de estilo arabe ainda rubra do sangue dos homens que o tentaram assassinar... Homens que hoje liderava. Homens que pediam nada menos que o sucesso absoluto.

- “Aquele que matou 8 homens de uma só golpada”...

As ondas trouxeram aquelas palavras e as memorias que cavalgavam com elas...

Há 5 anos atras, Anibal, o filho de pescadores portugueses que tinha quebrado o ciclo de serventia e pobreza que o prendia a terra lusa, partira para a Asia em busca da liberdade absoluta e da riqueza com que pavimentara os seus sonhos. Nessa altura ele era apenas Anibal, o contrabandista... Mas tudo isso mudou na batalha de Karashi. O capitão da frota pirata onde Anibal tinha embarcado, bebado pelo sucesso e a gloria de varios saques sem oposição, levado pela loucura do ouro e no alto da sua megalomania, planeou atacar o coração do comercio maritimo paquistanês: A cidade portuaria de Karashi.

O ataque foi um erro e um fracasso. Quatro naus cheias de piratas pouco podiam fazer contra a magnificencia da frota do Khan paquistanês, dotada das mais modernas maquinas de matar. As ondas vermelhas banharam o porto durante dias a fio até o mar reclamar a sua parcela do saque... Mas das cinzas dos barcos piratas nasceu uma lenda. A lenda dum homem de cabelos negros, armado com uma saif, saltando de barco em barco envolto em loucura e com selvajaria no sangue. Um espirito de vingança nascido daqueles que pereceram, reclamando a vida de dezenas de marinheiros paquistaneses enquanto rasgava a linha da frente. Esse homem era Anibal. Mas nem ele sabia explicar o que tinha acontecido. O que fosse que o possuiu levou consigo as suas acções e deixou um vazio na memoria do portugues.

Sacudindo as recordações e os pensamentos que o atormentavam e a areia negra das suas calças, o pirata ergueu-se e caminhou em direcção a cidade. Agora apenas o presente importava. Era tempo de voltar ao covil de Iraja...

***

O covil cheirava a mofo e tinha o chão forrado com piratas bebados ainda agarrados as garrafas de vinho da noite anterior. Ao fundo da sala Iraja, com seu olhar dementemente lucido, brincava com a sua petiz prisioneira revestida com um humilde vestido de rafia. Anibal continuava a não confiar naquela matilha que na noite anterior o tentara assassinar antes de o coroar em gloria, aclamando-o como um messias prometido por algum esquecido oraculo. A mão esquerda do portugues descansava nervosamente sobre o cabo da espada enquanto os seus olhos varriam todo o ambiente.
- Já temos rumo irmão pirata? – questionou Iraja, saindo do transe que a sua pequena cativa lhe infligia.
- Sim, iremos para oriente. Haverá bom saque e pouca resistencia.
- E porque não para sul meu irmão?
- Não existe nada para sul Iraja. Sabes isso tão bem como eu.
- Não existem certezas... Mas existem lendas pirata. Sabes do que falo... – retorquiu Iraja enquanto brincava com o cabelo da sua pequena escrava caindo novamente numa realidade que não pertencia aquele momento.
Mas Anibal percebeu em que direcção caminhava aquele espirito perturbado: A Ilha de Amardadestão.
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