quinta-feira, março 30, 2006

As Coisas Que Leio

Horroris Causa

No fim da doce noite.
No limite familiar da
Próxima dor _
Seremos doutorados
Horroris causa.
Pelo fogo _ no caos.
Pela chuva _ na mentira.

Os nossos curriculuns mortiis
Serão enviados
Em envelopes amaldiçoados.
Em todas as casas seremos
Sementes e armadilhas de cristal.
Entretendo famílias inteiras
Em refeições de carne vermelha,
Em provas de vinhos malditos.
Com fome e sede

Do Mal.

Fernando Ribeiro em "Como Escavar Um Abismo"

quarta-feira, março 29, 2006

Portugal 2070 - 7

As superfícies pareciam-me cada vez mais metálicas e frias, à medida que íamos descendo as escadas para a cripta. Sentia a humidade no ar, as narinas dilatavam-se e o sangue fluia melhor para a cabeça, num cheiro a musgo denso.
- Tão depressa...
Ele acabou por concordar e reduziu as passadas, inclinava-me sobre o seu ombro esquerdo que me guiava pela escada em caracol, espiralada, negra. Último degrau; a horizontalidade. Vi claridade a dançar ao fundo num jogo inocente nas paredes do espaço, mas não era bem ver. Sentia isso.
- Quem?
- Como estava a cidade desde que você partiu? - Inquiriu o homem ignorando a minha pergunta.
- Como sempre a conheci: ferida, miserável... Oh Deus! Afinal o que se passa aqui? Exigo uma resposta!
- Runesocescius.
E o espaço voltou á escuridão. Ouvia o homem a afastar-se de mim em passadas sub-repticias, deslizando lateralmente. E parei para cheirar o ar que se entrelaçava em mim. Começei a ouvir vozes a despoletaram em uníssono do outro lado.
- Volta!- Gritei. Aproximei-me da parede, e tacteando fui dar a uma porta aberta.
- Aproxima-te, aqui. A mãe, o pai de todos aguarda-te no seu trono vermelho negro, não há guerra, não há morte, não há paz nativa no mundo que criámos, a ordem que estabelecemos é contrária, é usurpadora dos males divinos e as profecias não são erradas, estão certas, quem viu...
- Por favor...
- ...aquele que restaurará a balança dos mortais.
Aproximei-me, ele apercebendo-se da minha dificuldade nos meus movimentos, trouxe-me pelo braço. Sentou-se primeiro, e enquanto o imitei, segurou-me firmemente pela mão e balançou-a com a maior força contra algo.
- Tens de ver!
Foi uma fracção de segundo até perceber o que era "algo". Tinha um espeto cravado contra a minha mão, sentia a dor dilacerante a percorrer-me e cobrir a razão com o manto da loucura. Quis tirar a mão do ferro que a perfurava, mas a do próprio homem que cobria a minha por completo e por consequência estava sujeito á mesma dor que eu não a deixou. Remetia-a para baixo, estava entalado entre a madeira da mesa e a mão do homem.
- Vê!
E eles vieram agarrar-me enquanto eu me debatia no frenesi, no pânico pela sobrevivência, nos meus impulsos mais profundos. Depois, veio a claridade.

terça-feira, março 28, 2006

Poema Inglês Sobre a Digna Profissão

A WHORE

"She was so exquisite a whore

That in the belly of her mother

She turned her cunt so right before

Her father fucked them both together. "

Rochester, Conde de (1647 _ 1680)

UMA PUTA

"Ela era de tal modo uma puta,

Que antes mesmo de nascer

Virou sua boceta, diminuta,

Para a ambas o pai foder. "

[Trad.: Wilian F. Pereira]

P.S. - Pedimos desculpas pela falta de Posts, mas andamos bastante ocupados... E espero que não se sintam insultados com tão inocente poema.

segunda-feira, março 20, 2006

Lisboa #6




Stairway to Heaven - Avenida Fontes Pereira de Melo

domingo, março 19, 2006

Sou uma personagem - Spike Spiegel





Tens Whiskey? Serves. Estes gajos que tocam são bons, como é que se chamam? Seatbelts? Hmmmm fixe. Diz-me viste uma mulher, sim eu sei, deixa-me acabar, uma mulher loura, alta, sorriso triste. Julia.
Em Jupiter é mais frio que no resto dos planetas do sistema, não sei se o Bebop vai aguentar... e a Faye... a Faye... aquela miúda vai arranjar encrenca da grossa, consigo cheirá-lo á distância, e não é que realmente me importe, o problema é que levou o nosso dinheiro. Cães, crianças e miúdas mimadas, como é que a minha vida se tornou nisto.

Serve mais um. O espaço consegue ser um sítio muito só ás vezes sabias? Especialmente quando ela não está por aqui. Hmmmm não pensemos nisso, ouvimos Seatbelts e esperamos pelo Jet.

E por ela.
in Cowboy Bebop

sexta-feira, março 17, 2006

Portugal 2070 - 6

A dias que viajava no deserto de cinzas... Tinha sede e fome. Sentia a vida a desaparecer do meu corpo por entre as ondas de calor. Arrastava-me por entre um mar cinzento sem sentido de direcção ou de destino, a minha morte já não era uma ideia distante... era um facto adquirido. Apenas os impulsos animalescos que residem em todos os homens me empurravam, sem esperança, dia após dia... até... a ... minha... mor....

"Acorda! Ergue-te e ouve as minhas palavras. Cumpre o teu destino..."

Acordei no meio duma escuridão infindavel. Sentia uma brisa a refrescar o meu corpo tão fustigado pelo sol. Mas um som distante alertou-me para a minha nova condição. O som de chamas a dançar mesmo sempre a minha cabeça fez-me compreender a verdadeira razão... Eu estava cego

-"Ah finalmente acordado! Já dormes a 10 dias."- a voz trovejou pelo espaço.
-Quem esta ai?- perguntei enquanto instintivamente me arrastava pelo chão parando apenas numa parede fria e humida
-"Descança... Ninguem te fará mal aqui. Estas em solo sagrado"
-Solo sagrado? Onde?- Perguntei numa voz tremula
-"No meio do deserto de cinzas, no sanctuario de Runesocesius. Um dos deuses dos tempos idos
-Não conheço...
-"Ah mas ele conhece-te a ti... Foi ele que te fez caminhas por entre a terra morta que nos rodeia fora do sanctuario- Sempre tive de acreditar no que via e no que era palpavel e visivel... A ideia de acreditar em algo como um Deus, era em mim uma concepção estrangeira.
-E que quer o teu deus comigo?-Respondi agressivamente as sombras que me rodiavam
-Vem comigo jovem, vamos perguntar aos deuses e eles proprios te dirão...

quarta-feira, março 15, 2006

Um poema de amor! Ou então não...

The First Drop of Blood

Cego
Para não ver a ignorancia do mundo

Surdo
Para não ouvir as mentiras que podem contaminar

Mudo
Para não desviar os outros com verdades que não são deles

Deixo apenas o Tacto e o Olfacto
Para cheirar o enxofre e a carne queimada
E para sentir o frio do aço na hora da minha morte

Lisboa #5




Rua do Alecrim - 12/05

domingo, março 12, 2006

Decatur

Vamos odiar-te com a força de um vulcão, para depois explodirmos á hora do lanche. Quando disseres que não podemos ver televisão vamos dizer-te com a força de um trovão que também não queriamos ver de qualquer maneira, e podes falar o que quiseres que não te estamos a ouvir. Não nos interessa que vás fazer queixas a ele depois, queriamos era elefantes e girafas e gnus e bichos do mato que passassem por aqui e te espezinhassem e vamo-nos rir tanto, quando eles o fizerem.
Olha, o Sol está a pôr-se! Daqui a pouco esgueiramo-nos pela calada, pé ante pé, temos é de abafar a respiração que nos incha o peito, muito, muito e vamos fugir á socapa para os campos de trigo. Que bom estarmo-nos a divertir e tu em trabalhos e preocupada connosco; deitados de barriga para o céu, imaginamos as frases que estarás a balbuciar encolérica: "Bolas!!" "Raios partam os miúdos!" "Que cruz esta que eu carrego!" e explodimos em altas gargalhadas.

Appreciate her, appreciate her,
Stand up and thank her

Claro que tu nos descobres como sempre, levas-nos pela mão, dizes-nos que estás triste e arrependêmo-nos em uníssono quando vemos os teus olhos pertinho, olha, olha, não era preciso ficares assim; pedimos-te desculpa. Desculpa-nos.

Prometemos que nunca mais partimos nada a jogar á bola.

sábado, março 11, 2006

Lisboa #4




Cais do Sodré - 2005

quinta-feira, março 09, 2006

Portugal 2070 - 5

Lisboa, 24 de Dezembro de 2070

"...sem nuvens no céu de hoje, com temperaturas que vão desde os 13 graus aos 17. Seguimos então com música, bom dia.

Rádio Tecnocrata!
Só para a nata da nata
Rádioooo Tecnocrataaaaa
Viver feliz não mataaaaaa!

Rádio Tec...

Lisboa! Lisboa estás aí? Lisboa acorda! Sai do transe, vê o que eles te estão a fazer! Não te resignes, luta! Luta por aquilo que já perdeste. Tu já perdeste coisas desde que isto começou. Deus, tu nasceste assim, é impossivel teres conhecido uma realidade diferente desta, mas houve! Já te contaram como era dantes? Paz! Havia Paz! Havia ordem, e vivia-se melhor, em Lisboa e em Portugal. Lisboa acorda!! Nós vamos conseguir, nós vamos conseguir. - Vai buscar o Oliveira!! Diz para ele trazer a chave! - Eles estão á nossa porta, mas nós podemos fechá-la. Esta não vai resistir muito tempo, mas isso não é importante. Temos que acreditar! Se Lisboa cai o País morre! Temos de nos unir, reeivindicar o que é de nós por direito, temos de ir á luta, temos que acreditar que podemos viver em paz. O coração dói-me e não sei o que me vai acontecer a seguir - Oliveiraaaa!! - mas não podia ficar á espera. Estamos fartos desta maldita guerra que nos consome tanto sem nada termos pedido, amanhã, dia 25 reunirnos-e-mos no Rossio pelas 10 horas da manhã para fazermos justiça á nossa condição. Cantaremos bem alto e eles descobrirão os monstros que nos tornámos devido a este conflicto. - Agarrem esse homem!! - Lisboa!! - JÁ!! AGARREM-NO! - Resiste!

Rádio Tecnocrata
Só para a nata da nat...

Pedimos desculpa por este inconveniente, infelizmente um agente Organicista conseguiu furar as medidas de segurança e lançar mensagens contraproducentes. A Sede Tecnocrata foi contactada e a resposta a esta missiva é a seguinte: Todos aqueles que se encontrarem amanhã na Praça do Rossio, serão tratados como Organicistas, agentes destabilizadores que não reconhecem a grandiosa ordem Tecnocrata.

Desculpe o incómodo. Bom dia."

terça-feira, março 07, 2006

Lisboa #3

sábado, março 04, 2006

Portugal 2070 - 4

I Don't want to set the world on fire...

A terra a volta de Lisboa é hoje em dia pouco mais que cinzas. No grande designio do "Novo Portugal" a cidade tinha sido victima duma experiencia que não só não funcionou como queimou um anel de fogo em torno da cidade. Muitos morreram, ainda mais ficaram feridos para toda a vida... Quase todos se suicidaram devido as dores que não conseguiam afogar em drogas e alcool... Lentamente ao cinzento juntou-se o vermelho do sangue e as lagrimas dum povo que ve os seus a desaparecer duma forma tão estupida e inutil. Este era o maior obstaculo a saida de Lisboa. O deserto estende-se por 10 km, o terreno é mole e o calor faz com que o certos materiais entrem em combustão. Se os cristãos vissem este cenario desolador, saberiam que o Inferno existe. É por este caminho que devo seguir se quero chegar ao Porto. Mas como se não chegasse este terreno tão convidativo, tambem existe a guarda tecnocrata que vigia a "fronteira" entre Lisboa e o resto do país (se é que ainda se pode chamar a isto um país...). A terra morre e nós com ela. Lisboa esta perdida e totalmente destruida pela sede de poder de duas forças obscuras que dizem representar o povo mas que na realidade só existem e lutam por si mesmas. Enquanto estas duas massas sombrias lutam em nome do futuro, esse mesmo futuro morre diante dos olhos de todos...

sexta-feira, março 03, 2006

Passenger

Here I lay

Estou numa road trip sem destino. A noite é negra, encaminhamo-nos pelo fim do mundo. Não há estrelas, não há ninguém. A brisa é escorregadia, e entrelaça-se em teias invísiveis, que me consomem força de vontade. Vamos continuar. Ainda sou o teu passageiro. Não quero voltar. Agora para me acalmares:

This time won't you please...
Drive faster!

Fugimos pelas trevas, estamos perdidos de boa vontade. A luz faz doer os olhos, faz-me chorar quando é forte. Agarro-me com força ás portas, são frias e pedem-me que retire as mãos. A noite continua, não podemos parar. Estamos sozinhos na monotonia desta montanha-russa. Não vou retirar as mãos. Ainda sou o teu passageiro. Não quero vou voltar. Não quero voltar. Não quero voltar. Não quero voltar. Não quero voltar. Não quero voltar. Não quero voltar. Não vou voltar. Agora para me acalmares:

Take me around again
Don't pull over
This time won't you please
Drive faster!!!

Aqui me deito, como sempre. Vamos, tu guias pela noite dentro. É assim que quero adormecer.




Gostava que vocês tocassem esta, no SBSR deste ano juntos. Mesmo.
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