terça-feira, fevereiro 28, 2006

Post subversivo (ou então não...)



Viva o Carnaval!!!

sábado, fevereiro 25, 2006

Lisboa #2

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Portugal 2070 - 3

Acordei hoje em sobressalto.

Eu e toda a comunidade de São Domingos de Benfica. Um fogo enorme proveniente dos matos descontrolados do Monsanto alastrou e alastrou até atacar as habitações já de si precárias do nosso bairro. Não deixa de ser irónico, até a própria Natureza nos consumir no nosso momento de maior vulnerabilidade. Isto é vingança. Eu sei.
É que apesar de estarmos em pleno Dezembro, as chuvas abundantes alternam com períodos de extremo calor. Não sabemos o que se passa. Fizemos algo, algo extremamente errado desta vez. E agora há o retorno.
Corri pelas ruas apinhadas, as mulheres choravam, os homens salvavam tudo o que podiam. Vi-os e ouvia-os a gritarem pelos bombeiros. Mas os bombeiros já tinham trabalho para hoje. Deviam de ter.
Os miúdos estavam histéricos, de olhos esbugalhados gritavam: "Benfica! Benfica!". Era o fim do Mundo, as labaredas precipitavam-se sobre as barracas construídas a madeira e devoravam-nas uma a uma, de um trago apenas. deus. Deus!
Pensei em ir buscar as minhas coisas, mas depois lembrei-me que já não tinha muito. Era-me indiferente, por isso continuei caminho pelos odores de fumaça, até alcançar a grande estrada.
Quando lá cheguei, perguntavam-me se eu era de Benfica, pelo que lá estava a acontecer. E das vezes em que cometi o erro de dizer a verdade, abençoavam-me, abraçavam-me, choravam por mim. Malditos.
A grande estrada era das poucas em Lisboa que restavam desde o último governo. Através dela circulavam a maior parte dos homens com ou sem rumo, os comerciantes, os mensageiros. Já durava há mais de 100 anos, ainda conseguia ver as riscas brancas, algumas delas ténues, na fronteira do invisivel, que serviam para separar e organizar os automóveis. Automóveis: aqui está uma palavra que ninguém diz com frequência.
Estive muito tempo a andar. Andava e pensava no que o me tinham dito há muito. Houve lá mais á frente um sítio onde se jogava futebol. Uma equipa de 11 jogadores, um relvado verde, e milhares em bancadas á volta. Havia de ter sido bom. Alguns dos homens chegaram mesmo a ser conhecidos no mundo inteiro. E palmas e adrenalina. Foi isso que me disseram. Mas quando lá cheguei, pouco ou nada lembrava essa realidade morta. Buracos em betão armado era tudo o que restava. O edificio em frente, por oposição espelhava grandiosidade e perfeita organização. Apesar dos muros á volta, os arames farpados, os homens em uniforme, via o vermelho velho erguer-se para o céu em cinzas.

A prisão Colombo.

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Homage

Liberta-te! Liberta-me! Há quanto tempo não sentes. Tens de sentir! Sente foda-se! SENTE! Atira-te contra a parede. ATIRA-TE! Crava essas unhas na tua carne! Não estás em ti, por isso lança-te! LANÇA-TE! Sai de ti, sem te olhares. E grita o mais alto que puderes! Estás vivo!! Tu estás vivo!!

I heard your voice. On my stereo. Lost into... the night.

Transpira e corre! Sente o sangue a pulsar, a pulsar dentro da tua cabeça! Atira os punhos contra o chão! Não pares, mesmo que vejas o vermelho, mesmo que vejas bocados de ti a desintegrarem-se. ESQUECE! Eles não estão aqui! Nem sequer tu existes. Não há nada! Há TUDO! Não olhes! Atira-te caralho! Arranca o teu vestido de pele! ARRANCA-O! Tu não és nada. Tu és tudo. Tu estás vivo. E LIVRE!

I heard your voice. On my stereo. Lost into... the night.

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Lisboa #1



Portugal 2070 - 2

Lisboa, 9 de Dezembro de 2070

Enquanto o resto do mundo se prepara para colonizar o espaço, Portugal voltou a era medieval. A maioria da população é iletrada, imunda e doente. A vida tornou-se verdadeiramente barata. E as noticias também não alegram a situação. Os Açores tornaram-se oficialmente o 55º estado dos EUA, a Madeira foi anexada por Marrocos e o Algarve e Alentejo fazem hoje parte do reino de Espanha. O resto ainda tá nas mãos da ONU mas ao que parece estamos a ser vendidos a retalho. Ao que parece o trafico de orgãos já não chega para suportar o esforço militar. Esforço militar... parece uma brincadeira de mau gosto mas é assim que eles chamam a sua acção em Lisboa e outras cidades. Prospecção comercial seria um termo mais correcto. Enquanto as duas facções rasgam e devoram o pais e as pessoas, a ONU leva o resto em nome da paz e fraternidade entre os homens. Como tudo hoje em dia, não passam de palavras... Mas ao menos, e por muito fragil que ela seja, aqui existe paz. E sempre se ouve uma ou duas noticias de interesse para um viajante como eu. Ao que parece os Oligarcas fizeram um ataque a cidade do Porto. A cidade parece ter interesse estrategico aos Ingleses e os Oligarcas esperam fazer algum lucro com isso. Talvez seja boa ideia ir até lá depois da ocupação. Nunca se sabe que precisara dos meus talentos...

sábado, fevereiro 18, 2006

Portugal 2070

Lisboa, 8 de Dezembro 2070


O Saldanha é uma zona perigosa. Apesar de pertencer aos TecnoCratas, a grande existência de ONG's na zona ao contrário do que se pode pensar, torna as coisas mais díficeis. E a grande proximidade com Campos torna-a um local a evitar.
Hoje tive de lá ir. O espectáculo é sempre o mesmo e a quaisquer horas do dia. Mulheres a trazerem os filhos de longe gritando aos médicos por ajuda, homens a bater á porta e a levarem outros. Não queremos ser apanhados aqui, e confundidos com quem não queremos ser confundidos.
Perguntaram-me constantemente pelo meu cartão N, e pelas cotas. Aqui mais do que em todos os sítios onde estive.
O cartão N é um cartão que prova a nossa Neutralidade. Todos os meses há uma cota a pagar no Centro, cada cota tem uma cor - este mês é verde azeitona - e temos de andar com eles sempre que saímos de casa. Aqui a Neutralidade paga-se, mesmo que isso signifique alimentar a guerra. Quando se é rico, é diferente. Os pedidos pelo cartão são menos frequentes, mas ao mesmo tempo recordo que já não devem existir tantos assim. Há muito que fugiram para a periferia de Lisboa; os bairros de Chelas e Amadora caracteristicos pelos burgueses sobreviventes do impasse.
Houve um comunicado dos Organicistas ontem. As pessoas sintonizaram na frequência certa (das duas únicas existentes) e aperceberam-se que as tréguas não foram aceites. Posso-me rir com honestidade: as tréguas nunca existiram verdadeiramente. Além disso, comunicaram que se tinham apoderado do Chefe administrativo de Infiltração dos Tecnocratas. Ao que parece, tudo o que bastou foi o homem ter-se aventurado por ruas pouco seguras, procurando o cão que tinha fugido no dia anterior.
Não vão haver trocas, nem prisões, nem exigências, nem contratações, nem lavagens cerebrais, nem torturas. Eles já andam nisto há demasiado tempo para se aperceberem da utilidade das mesmas. Vai haver sim uma execução, um comunicado posterior a informar do paradeiro do cadáver, mas como ambas as facções já perderam homens em operações de recuperação de restos mortais que se vieram a revelar armadilhas, o cadáver normalmente nunca é recuperado. Fica a poluir uma vala, ou rua. Qualquer uma da cidade Lisboa, que já estava morta, muitos anos antes de eu nascer.

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Portugal 2070 (mote)

Lisboa, 6 de Dezembro de 2070.

Chove abundantemente enquanto eu vagueio pelo Chiado, ou o que dele resta. Eu gostava de vos contar como era no tempo em que havia aqui teatros e cafés, lojas e monumentos... Mas nunca os vi. Sempre conheci Lisboa assim: Um monte de cascalho sob um céu cinzento. Só os mais velhos se lembram de como a cidade era nos tempos aureos, antes da guerra. Alias, só eles se lembram de como a guerra começou realmente. Todos os outros só sabem os restos de propaganda com que nos alimentam. Uns culpam o governo da altura, outros os movimentos radicais tanto de direita como de esquerda e há até que culpe os espanhóis e os americanos. Qualquer uma destas versões pode ser verdade, mas não há maneira de o comprovar. E para dizer a verdade já não interessa a ninguém. Cada um agarra-se a verdade presente e pouco mais. A maior parte da população foge para zonas ao abrigo da ONU, outros juntam-se aos exercitos em guerra... Os poucos que não se enquadram nestes papeis tentam sobreviver... Ao longe oiço o som de misseis a choverem sobre Belém. Devem estar a bombardear o CCB outra vez. Desde 58 que é o "ninho" dos Tecnocratas. Os Oligarcas controlam o Castelo. Sim, são esses os dois exercitos em confronto. Porque tem esse nome? Não sei, desde sempre que os chamamos assim e como eu disse só os velhos se lembram o porque do passado.
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Os americanos disseram que iam "largar a bomba". Alegremente, espero o momento...
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