sábado, novembro 26, 2005
quarta-feira, novembro 23, 2005
A esfera - Parte 9
São quatro da manhã e este sítio cheira a mijo.
- Por favor... não me diga que o Detective nunca fez Teatro. Este episódio passou-se, e digo-lhe que aprendi muito...
- Nunca consegui aprender nada dentro de paredes. Tudo o que tenho hoje foi á minha custa, nas ruas...
As gargalhadas dela são contagiantes...
- Voçê acha que eu sou a típica menina rica que tem tudo o que quer, sempre que quer não é assim Detective? Ficaria surpreendido com a quantidade de coisas que temos em comum...
Esta tasca, era o que de mais perto dos escritórios havia e a única que estava aberto a estas malditas horas. Mas ao passo que já estive em lugares piores, nunca vi toalhas de mesa tão rotas e encardidas como esta. Ela, no entanto, parece não se importar. Gostava que se tivesse sentado ao meu lado, o perfume ia afastar os cheiros ácidos e... as memórias sombrias para longe, quem sabe se... para sempre...
- Acha que sou uma cabra? - Perguntou abraçando-se a si própria, desviando o olhar para o passeio. Não me deu tempo de responder. - Eu tenho a certeza que sou. Que filha miserável denunciaria o pai desta maneira?
- Voçê fez a escolha acertada menina Lilith. O seu pai...
- Voçê não conhece o meu pai! Ele sempre foi bom para mim, nunca me faltou com nada, esteve sempre lá, sempre... ao contrário da minha mãe...
- Menina... - Sussurrei, olhando-a nos seus olhos esmeraldas em mágoa. E de repente, as minhas mãos sobre as dela.
Nesse momento o telemóvel tocou, ao mesmo tempo que me apercebi que o sol raiava sobre as florestas de betão circundante.
- Idiota de merda.
- Chefe, ele acabou de sair de casa, está-se a meter no carro.
- Já a estas horas?
- Sim. Tinha uma caixa quadrada forrada a papel de embrulho que meteu no porta bagagens. Está a arrancar agora... Que faço agora Chefe?
- Segue-o estúpido! Tal como te mandei! E diz-me para que sítio é que se dirige depois.
- Chef...
Vamos andando, até ao Crown Victoria, que se encontra estacionado a dois quarteirões. Misturamo-nos com os bêbados com insónias que não têm regresso a casa, e que preferem esquecer que já é de dia.
- Onde vamos?
Podia dizer-te querida, mas assim não teria tanta piada não é? As reacções são das poucas coisas neste trabalho que ainda me dão prazer...
- Já irá ver...
Passados dez minutos ao volante, ela reconhece o bairro. Quem não o reconheceria de qualquer maneira? Moradias baixas, paredes ainda brancas, azul límpido em piscinas fundas... Não há aqui sítio igual...
- Voçê ainda tem as chaves de casa do seu pai... certo Lilith?
- Por favor... não me diga que o Detective nunca fez Teatro. Este episódio passou-se, e digo-lhe que aprendi muito...
- Nunca consegui aprender nada dentro de paredes. Tudo o que tenho hoje foi á minha custa, nas ruas...
As gargalhadas dela são contagiantes...
- Voçê acha que eu sou a típica menina rica que tem tudo o que quer, sempre que quer não é assim Detective? Ficaria surpreendido com a quantidade de coisas que temos em comum...
Esta tasca, era o que de mais perto dos escritórios havia e a única que estava aberto a estas malditas horas. Mas ao passo que já estive em lugares piores, nunca vi toalhas de mesa tão rotas e encardidas como esta. Ela, no entanto, parece não se importar. Gostava que se tivesse sentado ao meu lado, o perfume ia afastar os cheiros ácidos e... as memórias sombrias para longe, quem sabe se... para sempre...
- Acha que sou uma cabra? - Perguntou abraçando-se a si própria, desviando o olhar para o passeio. Não me deu tempo de responder. - Eu tenho a certeza que sou. Que filha miserável denunciaria o pai desta maneira?
- Voçê fez a escolha acertada menina Lilith. O seu pai...
- Voçê não conhece o meu pai! Ele sempre foi bom para mim, nunca me faltou com nada, esteve sempre lá, sempre... ao contrário da minha mãe...
- Menina... - Sussurrei, olhando-a nos seus olhos esmeraldas em mágoa. E de repente, as minhas mãos sobre as dela.
Nesse momento o telemóvel tocou, ao mesmo tempo que me apercebi que o sol raiava sobre as florestas de betão circundante.
- Idiota de merda.
- Chefe, ele acabou de sair de casa, está-se a meter no carro.
- Já a estas horas?
- Sim. Tinha uma caixa quadrada forrada a papel de embrulho que meteu no porta bagagens. Está a arrancar agora... Que faço agora Chefe?
- Segue-o estúpido! Tal como te mandei! E diz-me para que sítio é que se dirige depois.
- Chef...
Vamos andando, até ao Crown Victoria, que se encontra estacionado a dois quarteirões. Misturamo-nos com os bêbados com insónias que não têm regresso a casa, e que preferem esquecer que já é de dia.
- Onde vamos?
Podia dizer-te querida, mas assim não teria tanta piada não é? As reacções são das poucas coisas neste trabalho que ainda me dão prazer...
- Já irá ver...
Passados dez minutos ao volante, ela reconhece o bairro. Quem não o reconheceria de qualquer maneira? Moradias baixas, paredes ainda brancas, azul límpido em piscinas fundas... Não há aqui sítio igual...
- Voçê ainda tem as chaves de casa do seu pai... certo Lilith?
Por Nós, Por Ele, Por Portugal
Neste momento de crise e desanimo nacional, o resistenciaaoutil junta-se ao ultimo dos politicos revolucionarios e visionarios de toda a historia mundial. Votem util, Votem Vieira, Para tirar Portugal da lixeira!!!
http://www.vieira2006.com/
http://www.vieira2006.com/
segunda-feira, novembro 21, 2005
quarta-feira, novembro 16, 2005
A esfera - Parte 8
A noite assentava sobre a lucidez e senso comum da cidade. Ela era a entidade viva que liga a existencia decrepita de todos em que tem o azar de deambular nela. Há os que tentam resistir, manter-se minimamente em contacto com a realidade... Mas esses sao os que acabam mortos ou pior. A unica maneira de sobreviver é perder-se na loucura e esperar que ninguém te encontre. A unica desvantagem é nunca mais poder regressar, mas ao fim de algum tempo já ninguém quer regressar. A loucura é demasiado reconfortante... E de certa forma é a unica sanidade que precisamos
- Ainda está connosco detective?- disse ela com a sua voz sensual e grave que me arrepiou a espinha. A minha vontade era de dar uma resposta algo mais aspera, algo que a fizesse sair da sala, do escritorio para nunca mais voltar... Mas a curiosidade venceu.
- Vai ter de me desculpar... O céu nocturno faz-me lembrar coisas do meu passado...
- Quer confessar algo?- palavras ditas com um ar trocista, tentado esconder um pavor que trespassava-a completamente
- Não, eu deixo as confissões para o meu cão... é o unico padre que posso confiar os meus segredos.
A sua face desenhou uma certa surpresa antes de definhar numa suave e quase inocente gargalhada.
- Vejo que não é um homem religioso...
- Impressão sua. Sou altamente religioso, apenas desentendi-me com Deus a uns anos... Mas vamos ao que interessa menina...
- Pode-me tratar por Lilith- por esta altura comecei a duvidar do que se passava. Por momentos "flashes" de um programa do Canal Historia arrombaram a minha mente. Memórias misturadas com uma qualquer trip de heroina... Bons velhos tempos
- Então menina Lilith diga-me... Que se passa com o seu pai? Porque é que eu devia dar um... centimo por ele?
- O meu pai é um homem muito importante e recentemente envolveu-se com uma mulher bastante jovem. A principio tudo parecia bem mas passado algum tempo ele começou a evidenciar um comportamento estranho que só parou quando a tal rapariga apareceu morta...
- Estou a ver... mas mesmo assim não estou a ver em que a posso ajudar.
- Ela foi vitima dum assassinio brutal, com muitos paralelismos entra o caso que ta a investigar.
Levada por uma especie de epifania, ela tirou da sua mala uma pequena pasta com os recortes de jornal sobre o caso... Não sei como não dei por isto... Embora as noticias não contassem todos os dados o pouco que continha mostrava que havia muito em comum entre os dois casos...
- Muito bem menina Lilith. Conseguiu a minha atenção... conte mais sobre essa "amiga" do seu pai...
Lá fora a chuva começava a acariciava languidamente os predios, numa dança sensual de sons e cheiros... Mas ninguém nota. Especialmente aqui... nunca aqui.
- Ainda está connosco detective?- disse ela com a sua voz sensual e grave que me arrepiou a espinha. A minha vontade era de dar uma resposta algo mais aspera, algo que a fizesse sair da sala, do escritorio para nunca mais voltar... Mas a curiosidade venceu.
- Vai ter de me desculpar... O céu nocturno faz-me lembrar coisas do meu passado...
- Quer confessar algo?- palavras ditas com um ar trocista, tentado esconder um pavor que trespassava-a completamente
- Não, eu deixo as confissões para o meu cão... é o unico padre que posso confiar os meus segredos.
A sua face desenhou uma certa surpresa antes de definhar numa suave e quase inocente gargalhada.
- Vejo que não é um homem religioso...
- Impressão sua. Sou altamente religioso, apenas desentendi-me com Deus a uns anos... Mas vamos ao que interessa menina...
- Pode-me tratar por Lilith- por esta altura comecei a duvidar do que se passava. Por momentos "flashes" de um programa do Canal Historia arrombaram a minha mente. Memórias misturadas com uma qualquer trip de heroina... Bons velhos tempos
- Então menina Lilith diga-me... Que se passa com o seu pai? Porque é que eu devia dar um... centimo por ele?
- O meu pai é um homem muito importante e recentemente envolveu-se com uma mulher bastante jovem. A principio tudo parecia bem mas passado algum tempo ele começou a evidenciar um comportamento estranho que só parou quando a tal rapariga apareceu morta...
- Estou a ver... mas mesmo assim não estou a ver em que a posso ajudar.
- Ela foi vitima dum assassinio brutal, com muitos paralelismos entra o caso que ta a investigar.
Levada por uma especie de epifania, ela tirou da sua mala uma pequena pasta com os recortes de jornal sobre o caso... Não sei como não dei por isto... Embora as noticias não contassem todos os dados o pouco que continha mostrava que havia muito em comum entre os dois casos...
- Muito bem menina Lilith. Conseguiu a minha atenção... conte mais sobre essa "amiga" do seu pai...
Lá fora a chuva começava a acariciava languidamente os predios, numa dança sensual de sons e cheiros... Mas ninguém nota. Especialmente aqui... nunca aqui.
quarta-feira, novembro 09, 2005
A esfera - Parte 7
O sangue era espesso, e brotava dum orifício negro no crâneo do homem. Percorria-lhe a testa, inundava-lhe o olho esquerdo, bifurcando-se na maçã do rosto proeminente, por baixo, onde sofria novos desvios d direcção até á boca entreaberta. O homem tentou falar, mas apenas se engasgou no seu próprio fluido vital. No queixo, tombava o escarlate sempre, sempre na direcção do inferno. E ele sabia o que ia acontecer a seguir, o chão ia-se transformar em cobras ou escaravelhos - desta vez eram cobras - e enquanto o sangue do seu parceiro pulsava, ele sentia-se a afundar no maralhal de carne putrafacta, mas viva que se enrolava á volta do seu corpo.
Vestiu-se rapidamente, tinha o cartão do bordel em cima da cómoda, pensou em deixá-lo lá propositadamente para chocar a empregada peruana que viria mais tarde, mas abriu a gaveta e deixou-o cair sobre a fotografia da sua ex-mulher.
"A gaveta das putas", pensou.
Até ali, não havia nada... Fazia cerca de uma semana que estava á frente do caso acerca dos restos humanos que surgiram nas docas da cidade, e nada. O estranho episódio processava-se de maneira que ele diria pré-definida e em que sentia que tudo o que pudesse fazer, já fora feito, e o resultado remetia-se para lugares onde mortais nada podiam fazer. De facto a autópsia confirmava tratar-se de um homem, na casa dos 30, aparentemente saudável, em que apesar de se desconhecer a sua identidade, nada faria prever o desfecho trágico. Até ali tinham um tórax e uma canela (não ligados entre si) dispostos duma maneira aleatória no pavimento alcatroado. E através das análises ao osso cerrado, e dos resíduos deixados na carne, determinou-se o intrumento de corte:
Uma serra eléctrica. Um Leatherface á solta. Que bom.
Quando chegou ao emprego, o puto, ás voltas no seu escritório minúsculo revirando papeis, espreitando por trás dos móveis. A secretária retocando a maquilhagem e mirando-se no espelho, não percebia que não era a estrela porno de há muito tempo atrás. Baratas que se afastam sempre que acendia a luz do WC... O costume.
- Está uma á tua espera no gabinete. - Disse, seca.
Uma quem?? Abriu a porta, até dar com a mulher, loura oxigenada, alta, de vestido curto negro, e apertado, cintura delgada. Figurava sentada de pernas cruzadas, exibindo as ligas das suas meias, deixando ver tudo o que ela queria que fosse visto, o resto na escuridão ofegante. Os olhos verdes contrastavam com as pestanas pretas grossas. Nunca vira uma mulher assim, quer dizer já, mas apenas em revistas.
- Preciso de lhe contar tudo. - Atirou frágil, superior. - Preciso de lhe contar tudo acerca do meu pai.
"A gaveta das putas", pensou.
Até ali, não havia nada... Fazia cerca de uma semana que estava á frente do caso acerca dos restos humanos que surgiram nas docas da cidade, e nada. O estranho episódio processava-se de maneira que ele diria pré-definida e em que sentia que tudo o que pudesse fazer, já fora feito, e o resultado remetia-se para lugares onde mortais nada podiam fazer. De facto a autópsia confirmava tratar-se de um homem, na casa dos 30, aparentemente saudável, em que apesar de se desconhecer a sua identidade, nada faria prever o desfecho trágico. Até ali tinham um tórax e uma canela (não ligados entre si) dispostos duma maneira aleatória no pavimento alcatroado. E através das análises ao osso cerrado, e dos resíduos deixados na carne, determinou-se o intrumento de corte:
Uma serra eléctrica. Um Leatherface á solta. Que bom.
Quando chegou ao emprego, o puto, ás voltas no seu escritório minúsculo revirando papeis, espreitando por trás dos móveis. A secretária retocando a maquilhagem e mirando-se no espelho, não percebia que não era a estrela porno de há muito tempo atrás. Baratas que se afastam sempre que acendia a luz do WC... O costume.
- Está uma á tua espera no gabinete. - Disse, seca.
Uma quem?? Abriu a porta, até dar com a mulher, loura oxigenada, alta, de vestido curto negro, e apertado, cintura delgada. Figurava sentada de pernas cruzadas, exibindo as ligas das suas meias, deixando ver tudo o que ela queria que fosse visto, o resto na escuridão ofegante. Os olhos verdes contrastavam com as pestanas pretas grossas. Nunca vira uma mulher assim, quer dizer já, mas apenas em revistas.
- Preciso de lhe contar tudo. - Atirou frágil, superior. - Preciso de lhe contar tudo acerca do meu pai.